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Bardo da Ordem Druídica Vozes do Bosque Sagrado.

18 de janeiro de 2006

Ciclos da História

Falando sobre tolerância e convivência há algum tempo atrás, ainda no endereço anterior deste blog, eu decidi resgatar de um blog ainda mais antigo este trecho do livro "Os Celtas", de Robin Place e comentá-lo.

"Os celtas nunca se uniram para criar um grande império.
Dividiam-se em muitas tribos, sempre em luta uma contra a outra.
Esta rivalidade entre as tribos foi a causa de sua derrota para os romanos".

Robin Place
Hoje em dia sabe-se que os Celtas fizeram sua expansão assimilando os povos que viviam nas terras que ocuparam e mesclando sua cultura à deles. Alguns Deuses celtas são inclusive vistos como possivelmente pertencentes a civilizações anteriores à chegada dos Celtas à região onde eram cultuados. Sabe-se que os Celtas eram um povo guerreiro e extremamente eficaz em agricultura e que os povos conquistados eram absorvidos pelo Druidismo, com seus costumes e leis.

Sabe-se ainda que, após essa colonização, as tribos jamais formaram uma nação celta ou panteão comum (não existe um panteão celta unificado), e que as brigas entre as tribos eram constantes e não-raro devido ao ego de líderes tribais suplantar a razão.

De fato, há relatos de tribos celtas que se aliaram a Roma para derrubar tribos rivais, concentrando-se num pensamento imediatista de vitória e numa falsa promessa de aliança que somente acelerou (e quem sabe não tenha deixado de impedir) a conquista de seus territórios pela mesma Roma à qual serviram, abrindo caminho para a posterior desidentificação da sua cultura como um todo, uma vez que foram assimilados e tiveram alguns de seus conceitos absorvidos e reescritos, alterando de forma drástica o que sobrou da memória e do significado original de seus Deuses, seus mitos, sua história e seus costumes segundo os interesses de seus conquistadores que conseguiram sobreviver ao processo.

No Paganismo atual o mesmo comportamento pode ser observado com facilidade. Vemos pagãos (e alguns dizem sê-lo sem fazer idéia do significado histórico e filosófico do termo) que têm ou projeção seja por sua fama, sua desenvoltura, sua visibilidade ou sua expressão por seu trabalho e conhecimento trocando ataques e acusações, usando para isso desde listas de Internet e sites até mesmo seus grupos de estudo e prática religiosa. E, em atacando uns aos outros, seja numa busca desenfreada de impingir a sua verdade ao máximo de pessoas possível, seja numa luta por elevar o nível do material disponibilizado ao público, essas diversas facções não conseguem enxergar que ninguém tem a ganhar com essa guerra a não ser as pessoas que vêm no Paganismo uma ameaça a seus objetivos e, mesmo, sua forma de encarar o mundo.

A situação atual de quem busca no Paganismo uma solução religiosa é mais ou menos a seguinte: por um lado, existe uma massa de pessoas ansiosas por obter informação rápida e fácil, em geral sem ter que lidar com o "incômodo" da reflexão, do senso-crítico ou do compromisso com o que absorvem, e se possível passando bem longe da inglória tarefa de ter que observar a própria face num espelho que lhes mostrará tudo o que não desejam encarar. Por outro, existem pessoas que buscam uma real conexão com os Deuses e têm uma sincera vontade de buscar algo embasado que lhes sirva justamente para trabalhar o reflexo no espelho do qual tantos fogem. Mas essas pessoas esbarram em autores de livros que escrevem de qualquer coisa menos o que dizem estar falando nas belas capas de seus livros lucrativos.

Desta forma, enquanto pagãos de expressão se atacam o tempo todo, pseudo-pagãos tomam conta do "mercado" de auto-ajuda, vendendo a idéia de que o paganismo é algo absurdamente diferente do que seja e usando esse discurso fácil para angariar "ovelhas" para seus rebanhos neo-qualquer-coisa que eles queiram criar, e quem busca alguma informação séria acaba sucumbindo ao golpe da mídia, que é extremamente eficaz em vender mentiras como se fossem a mais absoluta verdade. Afinal, a religião é um negócio muito rentável, e nos tempos atuais, onde vivemos guerras de egos dentro do cenário pagão brasileiro, existe um solo fértil pra quem queira se instaurar como a grande solução tanto para os que buscam informação de qualidade quanto para quem busca uma muleta para não ter que enxergar quem realmente é.

No passado os Celtas foram derrotados pois não souberam unir-se ante a um adversário comum que sequer conseguiam enxergar como inimigo, uma vez que muitas tribos aliaram-se a ele e sucumbiram em seguida. Neste mesmo passado, falharam em ver que o pior dos inimigos é o orgulho.

Hoje em dia caminhamos na mesma direção, cegos e guerreando tanto entre nós mesmo quanto com os aproveitadores que enxergam a total falta de unidade dentro do meio pagão. Se o ciclo se confirmar sem nos conscientizarmos da importância dessa união entre os pagãos que realmente desejam fazer um trabalho sério, a "nova Roma" nos aguarda no horizonte.


Citação extraída do Livro "Os Celtas", de Robin Place.
Editora melhoramentos, 1989. ISBN: 8506012139.

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3 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Oi Malhado ! PARABENS pelo texto. Vc foi perfeito ao comparar a luta, o confronto e a intolerância que existe no movimento atual com o que ocorreu no passado.
Esse confronto me assustou no inicio de minha caminhada. Pensava que a comunidade pagã fosse uma irmandade, todos se aceitando, partilhando ideias , sem preconceitos, trocando aprendizados.
Hoje, um pouco mais madura, aprendi que "é assim que é".
Acho desgastante esse confronto. Sou da opinião que o próprio tempo, Sr.Tempo ( Bendito Tempo!) se encarrega de fazer a devida faxina. Creio que o melhor é cada um se aprimorar naquilo que sabe, buscar divulgar o conhecimento adquirido aos seus discipulos ,que o proprio Tempo concedeu, e a quem quiser. O importante é semear, preparando bem o terreno.E depois... é só esperar a colheita.
Parabéns, continue com seus ideais, semeando, cuidando, se aprimorando.
Sejas forte, espalhe sementes e ...sejas feliz . (Aprendi com uma grande Mestra que essa é a única obrigação que temos nessa vida- de ser feliz)

19 janeiro, 2006 02:04  
Anonymous Anônimo disse...

Olá, gostei de seu texto e realmente sinto que me encaixo no grupo trapeceado pela mídia. De todos os livros sobre isso que tenho, os unicos que valem a pena são dois pequenos livros de historia. Gostaria de pedir sua ajuda para encontrar mais fontes seguras.

20 janeiro, 2006 18:22  
Anonymous Anônimo disse...

Olá Malhado!
Estava eu dando umas voltas por umas comunidades e blogs e encontrei o seu!
Mto bom o que você escreveu!!! Justamente o que eu passei... =_=
bom, mas agora ja estou sabendo dicernir melhor sobre falsas informações e farçantes xD
Comprei o livro da Emma Restall Orr... realmente ela é mto boa!
estou devorando o livro dela!

Abraço, tudo de bom!

02 fevereiro, 2006 19:17  

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