Esses dias, conversando na internet, li uma pessoa não saber definir o quanto as definições de Druidismo que eu sigo e as que ela havia encontrado são diferentes. Em seguida, para definir esse momento de angústia em que tudo o que acreditamos cai por terra e não sabemos mais em que direção seguir, sentindo-nos absolutamente perdidos, eu disse:
— "É como estar suspenso no vazio".
A pessoa com quem conversava concordou.
Pensei por um tempo o quanto é doloroso para quem busca o Druidismo como religião tentar garimpar informações no mundo atual. Antes era praticamente impossível devido à falta de acesso a
qualquer informação, mas hoje a dificuldade continua imensa, justamente pelo excesso de informações.
Tudo o que é dito e disseminado tem as mais diversas fontes. São cientistas (os que prestam e os que não valem o canudo que ostentam), místicos de toda sorte, muitos charlatães, pessoas empenhadas em causar o caos – e isso é muito comum principalmente na Internet – ou bem-intencionadas mas que não fazem idéia do que dizem, os que querem mostrar-se sábios para suprir suas carências ou revoltas (com ou sem causa), religiosos (raramente druidistas, quem dirá sacerotes) e uma mídia ávida por vender e que às vezes esbarra no nome Druidismo para enaltecer algo que, quando estudado seriamente, de druídico não tem nada.
Peguei-me de súbito suspenso no vazio por um instante. Espantado com o paradoxo da ausência e do excesso de informação terem o mesmo efeito, e sentei-me para escrever. Lembrei-me do meu tempo de hermetista e dos ensinamentos do meu antigo mestre, e em seguida veio-me à mente o Tao Te King que recebi de uma amiga e sempre está por perto para me dar conselhos sábios e respostas certeiras. Sem abri-lo a frase "o sábio se esconde na multidão" brotou da minha alma, fechando esse ciclo da minha tempestade de idéias. A melhor alegoria que tenho para explicar esses segundos de reflexão é a de um caminhante parando e virando-se para contemplar as pegadas que deixou no caminho percorrido. E essas pegadas mais uma vez me foram inestimavelmente úteis!
Compreendi que talvez não por intenção, talvez não por mero capricho, mas porque eu busquei as informações que "
o mestre veio a mim quando eu estava pronto" – uma máxima que todo mago adora – quando conheci a druidesa de nossa Ordem. Ao contrários dos "mestres" da tv, ela se mostrou como alguém que simplesmente soube correr atrás da informação, pensar e, acima de tudo, ponderar. Esse é o maior ensinamento que recebi dela e de todos os mestres com quem tive o prazer de conversar e estudar: pesquisar atentamente, refletir incessantemente e questionar coerentemente, mantendo sempre no coração que muitas, mas muitas vezes a única resposta possível é
eu não sei. E justamente por não sabermos devemos pesquisar sempre mais e melhor.
Muitas pessoas buscam conhecer o Druidismo, e muitas tentam tomar para si o seu nome e o que ele seja, mas eis o conselho que eu dou a quem busca conhecer ou vivenciar o que ele
realmente é:
Procure por livros de autores sérios, que tenham suas informações comprovadamente extraídas de livros de história e arqueologia. Prefira os autores consagrados, mas tenha sempre em mente que todo autor também pode errar, principalmente quando opina sobre algo.
Encontre pessoas sérias com quem possa trocar experiências e idéias. Esqueça grupos, "gurus" ou "sacerdotes" que prometem mundos e fundos. Sua busca será solitária até que, por muito insistir, alguém aparecerá em seu caminho oferecendo não soluções, mas meios para que você mesmo encontre suas respostas. É deste tipo de pessoas que os grupos sérios nascem, e não existe espaço para pressa neles.
Não tenha medo de questionar. Quem teme a pergunta corre o risco de ou assumir respostas tortas ou desistir de seguir adiante. Nessa confusão os conceitos básicos se perdem e, com eles, todo o resto. Daí nascem a dúvida, o medo, a revolta e a soberba, entre tantas outras mazelas.
Conheça seus limites. Ao tentar abraçar o mundo com as pernas tudo o que você consegue é ficar sentado de pernas abertas no chão, e assim ninguém caminha. Siga um passo por vez, no seu ritmo, de forma bem confortável. Quando o desconforto tiver de aparecer para que você aprenda com ele é uma coisa, mas causá-lo a si não vale à pena.
Caminhe com humildade mas de cabeça erguida. Ouça atentamente a tudo o que lhe for dito, mas reflita muito antes de tomar por certa qualquer "verdade". Respeite quem é mais antigo no caminho e na vivência, mas jamais se esqueça de que o
seu processo é chamado assim pois somente você o pode vivenciar. Raízes de outras árvores não transformarão a tua semente em carvalho.
Não divulgue suposições e impressões como se verdade fossem pois é essa prática que dificulta o acesso de mais pessoas a informações de qualidade. Esqueça sacerdócio e rituais. O Druidismo não funciona da mesma forma que, por exemplo, a Wicca como a mídia deixa a entender, e não é preciso iniciar-se ou dedicar-se para tornar-se um druidista. Basta crer nos nossos Deuses e vivenciar a nossa religião. Bem simples. Bastante diferente. Nem melhor, nem pior.
Lembre-se de que você não estará sozinho, pois os Deuses acompanharão seus passos e estarão sempre olhando por ti, não para que nada lhe aconteça, mas para que você seja capaz de lidar com tudo o que enfrentar durante a sua jornada.
Alexandre MalhadoE, para quem não sabe o que é estar só ou para quem acha que sabe, eu voto na definição do Chico.
SolidãoSolidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo...
Isto é carência!
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar...
Isto é saudade!
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos...
Isto é equilíbrio!
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente...
Isto é um princípio da natureza!
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...
Isto é circunstância!
Solidão é muito mais do que isto...
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma.
Chico BuarqueBoa caminhada!!! E enquanto não nos encontramos pelos caminhos dos Deuses ou pelas trilhas do mundo, escute "
Linha do horizonte", cantada pelo
Azymuth, prestando atenção na
letra desta canção.
Com agradecimentos a tantos que não há espaço para dizer. Alguns pela Inspiração, outros por contribuições durante essa reflexão, e todos por estarem no caminho quando eu precisei de uma voz humana para soprar o que os Deuses não conseguiam me fazer escutar de outro modo.
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