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Bardo da Ordem Druídica Vozes do Bosque Sagrado.

14 de março de 2006

A Lenda da Vitória Régia

Um povo sem memória não é um povo. Um pagão que não conheça a voz dos povos que se criaram no solo em que pisa está alijado de uma herança inestimável, disponível e sempre à nossa frente, esperando que ouçamos a voz da terra que nos acolhe.

Que Oghma grave estas palavras
nos corações do Bardos que por aqui passem,
para que esta lenda não morra jamais!



Estava fazendo uma noite muito quente. O luar era tão claro, que se enxergava quase como se fosse de dia. Perto da lagoa havia uma importante tribo de índios, que hoje não existe mais. Entre os índios, havia um velho chefe, muito procurado pelas crianças, que gostavam de ouvir suas histórias.

Como a noite estava quente e o luar muito lindo, o velho cacique havia-se sentado bem perto da lagoa, para descansar e gozar daquela beleza. Logo que as crianças descobriram que ele estava ali, foram sentar-se perto dele. Pediram que lhes contasse uma história. O cacique, porém, estava tão distraído, admirando a vitória-régia, que nem percebera a chegada das crianças. Custou para que ele saísse daquela contemplação. Por fim, sorriu para elas.

- O que o senhor estava vendo com tanta atenção? - perguntou uma.

- Aquela estrela! Aquela bonita estrela, respondeu o cacique, apontando para a vitória-régia.

As crianças ficaram admiradas e trocaram um olhar significativo. A vitória-régia era uma estrela? Pobre cacique!

Ele percebeu o espanto das crianças e lhes disse:

- Não tenham medo! Não fiquei doido, não. Não acreditam que a vitória-régia seja uma estrela? Então ouçam:

Faz muitos e muitos anos. Nem sei quantos. Em nossa tribo, vivia uma índia, muito moça e muito bonita, a quem haviam contado que a lua era um guerreiro forte e poderoso. A moça apaixonou-se por esse guerreiro e não quis casar-se com nenhum dos índios da tribo. Não fazia outra coisa sendo esperar que a lua surgisse. Aí, então, punha os olhos no céu e não via mais nada. Só o poderoso guerreiro. Muitas vezes, ela saía correndo pela floresta, os braços erguidos, procurando agarrar a lua.

Todos da tribo tinham pena da índia, pena de vê-la dominada por um sonho tão louco.

E o tempo foi passando... Contudo, o sonho não deixava a pobre moça em paz. Queria ir para o céu. Queria transformar-se numa estrela, numa estrela tão bonita, que fosse admirada pela lua. Mas a lua continuava distante e indiferente, desprezando o desejo da moça.

Quando não havia luar, a jovem permanecia aborrecida em sua oca, sem falar com ninguém. Eram inúteis os esforços dos amigos e parentes para que ela ficasse com as outras moças. Continuava recolhida, silenciosa, até a lua aparecer novamente.

Uma noite em que o luar estava mais bonito do que nunca, transformando em prata a paisagem da floresta, a moça repetiu sua tentativa. Chegando à beira da lagoa, viu a lua refletida no meio das águas tranqüilas e acreditou que ela havia descido do céu para se banhar ali. Finalmente, ia conhecer o famoso e poderoso guerreiro.

Sem hesitar, a moça atirou-se às águas profundas e nadou em direção à imagem da lua. Quando percebeu que havia sido ilusão, tentou voltar, mas as forças lhe faltaram e morreu afogada.

A Lua, que era, como eu disse, um guerreiro forte e poderoso, uma espécie de deus, viu o que havia acontecido e ficou compadecida. Sentiu remorso por não ter transformado a formosa índia em uma estrela do céu. Agora era tarde. A moça ia pertencer, para sempre, às águas profundas da lagoa. Porém, já que não era possível torná-la uma estrela do céu, como ela tanto desejara, podia transformá-la numa estrela das águas. Uma flor que seria a rainha das flores aquáticas.

E, assim, a formosa índia foi transformada na vitória-régia. À noite, essa maravilhosa flor se abre, permitindo que a lua a ilumine e revele sua impressionante beleza.

Extraído do livro "Histórias e Lendas do Brasil", de Gonçalves Ribeiro. Com adaptações.

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3 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Essa lenda brasileira é linda!!

14 março, 2006 18:26  
Anonymous Anônimo disse...

Ah eu sempre adorei!!!!
Nossa!
Muito legal cara!
Que os deuses da memória nao percam jamais esse conhecimento!
Eu chamo por Saga para que ela cuida disso e que preserve ate que nossas proximas gerações possam gozar desta bela leitura!
Abraços!
Vagner

14 março, 2006 19:50  
Blogger Naty Sartori disse...

As lendas indigenas são mesmo muito bonitas...e tristes eu acho!
Vc conhece alguma história com Cy?

Beijos

18 março, 2006 11:17  

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