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Bardo da Ordem Druídica Vozes do Bosque Sagrado.

18 de agosto de 2007

Buscando Sabedoria

Certo dia um rapaz foi ter com um homem sábio muito respeitado na região. Ao chegar lá perguntou como poderia ele também encontrar a sabedoria.

O homem olhou para o jovem de forma serena e paciente por algum tempo, como se o estivesse estudando antes de esboçar qualquer reação, e por fim sorriu com gentileza, levantando-se em seguida. O jovem notou a pele do ancião, totalmente marcada por rugas profundas, dançar à luz do sol ainda frio da manhã, exibindo em desenhos de luz e sombra suas muitas décadas de vivência, e retribui com um sorriso de esperança.

O sábio pediu então que o jovem o acompanhasse e começou a andar. Enquanto seguiam aparentemente rumo a lugar algum, o ancião não disse uma única palavra. O rapaz seguia ao seu lado, analisando o caminhar lento e a postura já um pouco curvada do seu frágil e imponente guia, o qual movia-se quase como se seus passos fossem parte de algum ritual, e enquanto sua mente divagava entre pensamentos e sua ansiedade ele admirava os passos daquele homem, que de repente parou.

— Chegamos – disse.

Estavam defronte a um pequeno lago de águas calmas e escuras, uma pequena cachoeira tocando uma música de bolhas e chuviscos. E o sábio caminhou em direção àquela água pedindo ao jovem que viesse ficar com ele metade dentro da água e metade fora.

O jovem entendeu que um momento de aprendizado havia chegado, e ali haveria alguma lição a aprender. Extasiado e mal conseguindo se conter, seguiu para o lago e imitou o mestre, ficando com a água na altura da cintura e sentindo o contraste entre o frio cortante do lago e os raios já mais quentes e acolhedores do Sol.

"Deve ser alguma coisa relativa ao contraste entre as temperaturas" – pensou enquanto tremia. Mas o mestre sabia os segredos da luta e apesar de não parecer era muito ágil. Assim, antes que o jovem conseguisse terminar sua linha de raciocínio, ele o agarrou pelo pescoço e afundou sua cabeça na água gelada do lago, começando a afogá-lo.

A surpresa e o frio deram-lhe um choque, e o jovem tentava em vão se debater. O coração disparado quase saía pela boca junto com o precioso ar que deixava caprichosamente seus pulmões, trazendo água em retorno. Quando suas forças estavam falhando e estava para desistir da batalha, tudo o que percebia eram os sentidos torpes e o sabor da água escura, agora barrenta deixando, de existir em sua boca. O frio não mais açoitava sua pele, e o corpo amoleceu.

Foi quando sentiu o puxão firme do ancião, que o ergueu olhando firme e ainda ternamente em seus olhos. O sábio o ajudou a recuperar o equilíbrio e o fôlego e caminhou para fora d'água, indo sentar-se numa pedra.

Ao conseguir tomar prumo de si, e sem saber o que fazer diante daquela situação, o jovem caminhou em direção à pedra. Ao Vê-lo chegar perto, o sábio disse:

— O que você mais desejou enquanto estava lá embaixo?

O jovem respondeu:

— Respirar, é claro!

Então o sábio respondeu:

— Quando você desejar a sabedoria tanto quanto desejou respirar, aí você a conseguirá.


Versão de Alexandre Malhado,
Inspirado numa estória de um autor desconhecido que escutei e resolvi recontar em versão própria.


A sabedoria é a plenitude de um vazio muito pesado de se carregar. É uma suavidade tempestuosa e uma paixão repleta de serenidade. De tão dúbia, não apenas faz, mas torna-se sentido em si, e as pessoas que a buscam com a esperança de encontrar um delírio de felicidade acabam por perder-se na simplicidade de um ponto enquanto tentam enxergar a linha que lhes guiará a vida.

De fato, não conheço quem a tenha encontrado e não se adorne com as cicatrizes do próprio caminho, ao invés de belos adornos de metais e pedras sem valor. E todo aquele que a encontra concordará comigo quando digo que a mente humana não admite o que é simples como resposta, e que buscar a sabedoria dói de modos e formas os quais nunca conseguiremos imaginar antes de experimentá-los.


Mergulhe em si e descubra sua própria sabedoria enquanto se delicia com "Baleia Azul", uma música instrumental dedilhada por Victor Biglione em seu violão.

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8 Comentários:

Blogger Adrenalina disse...

Dói. Mas o amor pelas cicatrizes e pelo que elas representam é o que fica depois...

18 agosto, 2007 05:40  
Anonymous Anônimo disse...

Malhado,


belíssimo o teu texto. A tua versão, que suponho muito melhor que qualquer outra.



Viva o teu Respírito!



Abraços, flores, estrelas..


.

18 agosto, 2007 11:35  
Anonymous Anônimo disse...

:)
mto bom...
obrigado pelo texto q postou em seu blog.. ficou maravilhoso e compreensivel ..

18 agosto, 2007 12:50  
Anonymous Anônimo disse...

Oi Malhado, vim espiar seu canto, porque ví seu recado lá no Mude prá mim.

Eu bem quis dizer ao Edson que sempre a mil as vezes não deixa aproveitar o que de bom possa passar por nós.. simplismente passa...vc olha, mas não vê... pega sem tocar...

Eu adorei o seu texto.
E as vezes tenho tentado "respirar".

Adorei. Voltarei.

Beijo

18 agosto, 2007 22:08  
Blogger Ghad Arddhu disse...

A Sabedoria está em todo lugar, apenas quando nos sentimos afogados pela necessidade delas, é que nossos olhos se abrem para vê-la. E então é inexorável que a respiremos até nos engasgar... apenas assim conseguimos errar novamente, até aprender o ritmo certo de nosso corpo.

Apenas assim conseguimos aprender o nosso ritmo.

19 agosto, 2007 02:54  
Blogger Melyanna disse...

Uma frase q diz tudo: "A sabedoria é a plenitude de um vazio muito pesado de se carregar"

beijosss

21 agosto, 2007 10:07  
Blogger Su disse...

Tanto a aprender!
Seu texto me fez lembrar do tempo em que desejei muito alguma coisa ou coisas... Hoje nem sei mais!
Será esse o meu desejo? Saber o que realmente quero desejar?
Boa lição essa sua!
Pra variar, me fez pensar!
Beijocas afilhado!

23 agosto, 2007 16:35  
Blogger Pensamentos e Sentimentos de um Druida Verde disse...

Realmente é preciso ter forte desejo e folego da alma para poder abraçar o grande poder de sabedoria "Ruad Rofhessa Eochaid Ollathair " o grande Deus bom Dagda,e receber dele os dons de Brighid, o acalento de Dannu fonte pura,solo verde esmeralda encantada de Erin e porque não do mundo;mistério onde mergulhamos com tal amor e dedicação...
Nem todos compreendem que para um mergulho assim é preciso tempo para acostumar -se a profundidade do lago e assim buscar nos reinos da Dama do Lago, a espada excalibur atributo simbólico desse trabalho contínuo...
.*.
/|\
O DRUIDA VERDE
NORHUYAS ABRAMESTH SMARAGDUS

06 setembro, 2007 19:02  

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