Buscando Sabedoria
Certo dia um rapaz foi ter com um homem sábio muito respeitado na região. Ao chegar lá perguntou como poderia ele também encontrar a sabedoria.
O homem olhou para o jovem de forma serena e paciente por algum tempo, como se o estivesse estudando antes de esboçar qualquer reação, e por fim sorriu com gentileza, levantando-se em seguida. O jovem notou a pele do ancião, totalmente marcada por rugas profundas, dançar à luz do sol ainda frio da manhã, exibindo em desenhos de luz e sombra suas muitas décadas de vivência, e retribui com um sorriso de esperança.
O sábio pediu então que o jovem o acompanhasse e começou a andar. Enquanto seguiam aparentemente rumo a lugar algum, o ancião não disse uma única palavra. O rapaz seguia ao seu lado, analisando o caminhar lento e a postura já um pouco curvada do seu frágil e imponente guia, o qual movia-se quase como se seus passos fossem parte de algum ritual, e enquanto sua mente divagava entre pensamentos e sua ansiedade ele admirava os passos daquele homem, que de repente parou.
— Chegamos – disse.
Estavam defronte a um pequeno lago de águas calmas e escuras, uma pequena cachoeira tocando uma música de bolhas e chuviscos. E o sábio caminhou em direção àquela água pedindo ao jovem que viesse ficar com ele metade dentro da água e metade fora.
O jovem entendeu que um momento de aprendizado havia chegado, e ali haveria alguma lição a aprender. Extasiado e mal conseguindo se conter, seguiu para o lago e imitou o mestre, ficando com a água na altura da cintura e sentindo o contraste entre o frio cortante do lago e os raios já mais quentes e acolhedores do Sol.
"Deve ser alguma coisa relativa ao contraste entre as temperaturas" – pensou enquanto tremia. Mas o mestre sabia os segredos da luta e apesar de não parecer era muito ágil. Assim, antes que o jovem conseguisse terminar sua linha de raciocínio, ele o agarrou pelo pescoço e afundou sua cabeça na água gelada do lago, começando a afogá-lo.
A surpresa e o frio deram-lhe um choque, e o jovem tentava em vão se debater. O coração disparado quase saía pela boca junto com o precioso ar que deixava caprichosamente seus pulmões, trazendo água em retorno. Quando suas forças estavam falhando e estava para desistir da batalha, tudo o que percebia eram os sentidos torpes e o sabor da água escura, agora barrenta deixando, de existir em sua boca. O frio não mais açoitava sua pele, e o corpo amoleceu.
Foi quando sentiu o puxão firme do ancião, que o ergueu olhando firme e ainda ternamente em seus olhos. O sábio o ajudou a recuperar o equilíbrio e o fôlego e caminhou para fora d'água, indo sentar-se numa pedra.
Ao conseguir tomar prumo de si, e sem saber o que fazer diante daquela situação, o jovem caminhou em direção à pedra. Ao Vê-lo chegar perto, o sábio disse:
— O que você mais desejou enquanto estava lá embaixo?
O jovem respondeu:
— Respirar, é claro!
Então o sábio respondeu:
— Quando você desejar a sabedoria tanto quanto desejou respirar, aí você a conseguirá.
Versão de Alexandre Malhado,
Inspirado numa estória de um autor desconhecido que escutei e resolvi recontar em versão própria.
A sabedoria é a plenitude de um vazio muito pesado de se carregar. É uma suavidade tempestuosa e uma paixão repleta de serenidade. De tão dúbia, não apenas faz, mas torna-se sentido em si, e as pessoas que a buscam com a esperança de encontrar um delírio de felicidade acabam por perder-se na simplicidade de um ponto enquanto tentam enxergar a linha que lhes guiará a vida.
De fato, não conheço quem a tenha encontrado e não se adorne com as cicatrizes do próprio caminho, ao invés de belos adornos de metais e pedras sem valor. E todo aquele que a encontra concordará comigo quando digo que a mente humana não admite o que é simples como resposta, e que buscar a sabedoria dói de modos e formas os quais nunca conseguiremos imaginar antes de experimentá-los.
Mergulhe em si e descubra sua própria sabedoria enquanto se delicia com "Baleia Azul", uma música instrumental dedilhada por Victor Biglione em seu violão.
O homem olhou para o jovem de forma serena e paciente por algum tempo, como se o estivesse estudando antes de esboçar qualquer reação, e por fim sorriu com gentileza, levantando-se em seguida. O jovem notou a pele do ancião, totalmente marcada por rugas profundas, dançar à luz do sol ainda frio da manhã, exibindo em desenhos de luz e sombra suas muitas décadas de vivência, e retribui com um sorriso de esperança.
O sábio pediu então que o jovem o acompanhasse e começou a andar. Enquanto seguiam aparentemente rumo a lugar algum, o ancião não disse uma única palavra. O rapaz seguia ao seu lado, analisando o caminhar lento e a postura já um pouco curvada do seu frágil e imponente guia, o qual movia-se quase como se seus passos fossem parte de algum ritual, e enquanto sua mente divagava entre pensamentos e sua ansiedade ele admirava os passos daquele homem, que de repente parou.
— Chegamos – disse.
Estavam defronte a um pequeno lago de águas calmas e escuras, uma pequena cachoeira tocando uma música de bolhas e chuviscos. E o sábio caminhou em direção àquela água pedindo ao jovem que viesse ficar com ele metade dentro da água e metade fora.
O jovem entendeu que um momento de aprendizado havia chegado, e ali haveria alguma lição a aprender. Extasiado e mal conseguindo se conter, seguiu para o lago e imitou o mestre, ficando com a água na altura da cintura e sentindo o contraste entre o frio cortante do lago e os raios já mais quentes e acolhedores do Sol.
"Deve ser alguma coisa relativa ao contraste entre as temperaturas" – pensou enquanto tremia. Mas o mestre sabia os segredos da luta e apesar de não parecer era muito ágil. Assim, antes que o jovem conseguisse terminar sua linha de raciocínio, ele o agarrou pelo pescoço e afundou sua cabeça na água gelada do lago, começando a afogá-lo.
A surpresa e o frio deram-lhe um choque, e o jovem tentava em vão se debater. O coração disparado quase saía pela boca junto com o precioso ar que deixava caprichosamente seus pulmões, trazendo água em retorno. Quando suas forças estavam falhando e estava para desistir da batalha, tudo o que percebia eram os sentidos torpes e o sabor da água escura, agora barrenta deixando, de existir em sua boca. O frio não mais açoitava sua pele, e o corpo amoleceu.
Foi quando sentiu o puxão firme do ancião, que o ergueu olhando firme e ainda ternamente em seus olhos. O sábio o ajudou a recuperar o equilíbrio e o fôlego e caminhou para fora d'água, indo sentar-se numa pedra.
Ao conseguir tomar prumo de si, e sem saber o que fazer diante daquela situação, o jovem caminhou em direção à pedra. Ao Vê-lo chegar perto, o sábio disse:
— O que você mais desejou enquanto estava lá embaixo?
O jovem respondeu:
— Respirar, é claro!
Então o sábio respondeu:
— Quando você desejar a sabedoria tanto quanto desejou respirar, aí você a conseguirá.
Versão de Alexandre Malhado,
Inspirado numa estória de um autor desconhecido que escutei e resolvi recontar em versão própria.
A sabedoria é a plenitude de um vazio muito pesado de se carregar. É uma suavidade tempestuosa e uma paixão repleta de serenidade. De tão dúbia, não apenas faz, mas torna-se sentido em si, e as pessoas que a buscam com a esperança de encontrar um delírio de felicidade acabam por perder-se na simplicidade de um ponto enquanto tentam enxergar a linha que lhes guiará a vida.
De fato, não conheço quem a tenha encontrado e não se adorne com as cicatrizes do próprio caminho, ao invés de belos adornos de metais e pedras sem valor. E todo aquele que a encontra concordará comigo quando digo que a mente humana não admite o que é simples como resposta, e que buscar a sabedoria dói de modos e formas os quais nunca conseguiremos imaginar antes de experimentá-los.
Mergulhe em si e descubra sua própria sabedoria enquanto se delicia com "Baleia Azul", uma música instrumental dedilhada por Victor Biglione em seu violão.
Marcadores: Pensamentos.htm
8 Comentários:
Dói. Mas o amor pelas cicatrizes e pelo que elas representam é o que fica depois...
Malhado,
belíssimo o teu texto. A tua versão, que suponho muito melhor que qualquer outra.
Viva o teu Respírito!
Abraços, flores, estrelas..
.
:)
mto bom...
obrigado pelo texto q postou em seu blog.. ficou maravilhoso e compreensivel ..
Oi Malhado, vim espiar seu canto, porque ví seu recado lá no Mude prá mim.
Eu bem quis dizer ao Edson que sempre a mil as vezes não deixa aproveitar o que de bom possa passar por nós.. simplismente passa...vc olha, mas não vê... pega sem tocar...
Eu adorei o seu texto.
E as vezes tenho tentado "respirar".
Adorei. Voltarei.
Beijo
A Sabedoria está em todo lugar, apenas quando nos sentimos afogados pela necessidade delas, é que nossos olhos se abrem para vê-la. E então é inexorável que a respiremos até nos engasgar... apenas assim conseguimos errar novamente, até aprender o ritmo certo de nosso corpo.
Apenas assim conseguimos aprender o nosso ritmo.
Uma frase q diz tudo: "A sabedoria é a plenitude de um vazio muito pesado de se carregar"
beijosss
Tanto a aprender!
Seu texto me fez lembrar do tempo em que desejei muito alguma coisa ou coisas... Hoje nem sei mais!
Será esse o meu desejo? Saber o que realmente quero desejar?
Boa lição essa sua!
Pra variar, me fez pensar!
Beijocas afilhado!
Realmente é preciso ter forte desejo e folego da alma para poder abraçar o grande poder de sabedoria "Ruad Rofhessa Eochaid Ollathair " o grande Deus bom Dagda,e receber dele os dons de Brighid, o acalento de Dannu fonte pura,solo verde esmeralda encantada de Erin e porque não do mundo;mistério onde mergulhamos com tal amor e dedicação...
Nem todos compreendem que para um mergulho assim é preciso tempo para acostumar -se a profundidade do lago e assim buscar nos reinos da Dama do Lago, a espada excalibur atributo simbólico desse trabalho contínuo...
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O DRUIDA VERDE
NORHUYAS ABRAMESTH SMARAGDUS
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