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Bardo da Ordem Druídica Vozes do Bosque Sagrado.

17 de abril de 2007

Os Adormecidos

Uma das analogias mais felizes que eu já encontrei no cinema foi justamente a explicação dada no filme Matrix para as pessoas não saberem que fazem parte da matriz: pessoas que nascem, crescem, vivem e morrem sem saber que tudo isso aconteceu enquanto seus corpos reais estavam imersos num líquido qual uma placenta enquanto elas, adormecidas que estão, nada sabem do mundo real.

Através deste mito moderno o mundo revive os de outrora: os trabalhos de Hércules, as peripécias de Loki, o sacrifico de Prometeu, a carga dos exércitos de Bran, a batalha de CuChullain e tantas outras estórias fantásticas que trazem em si o conhecimento da humanidade e permeiam nossa mente ainda hoje. Este é apenas um dos mais recentes.

Lembro sempre de como é perfeita a cena da mulher de vestido vermelho onde Neo, o protagonista, aprende que todos estes adormecidos farão de tudo para continuarem assim, pois é esta a realidade que conhecem e na qual sabem viver. É sobre isso que eu desejo falar hoje, pois ser pagão nos dias de hoje é estar "acordado" entre "adormecidos". Não que as religiões pagãs sejam melhores ou pirões que as dos outros. Ir por aí já é começar mal, pois não somos um "povo escolhido" e no Paganismo a diversidade, além de celebrada, não tem hierarquia entre espécies, quanto mais dentro de uma mesma da qual apenas fazemos parte.

Os outros estão adormecidos pois as informações que têm sobre nossa crença e nossas práticas são, quando não mentirosas, distorcidas. As massas não saem em busca de respostas e, assim, aceitam o que lhes dizem seus líderes... e o fato de caminharmos com os próprios pés, agirmos e pensarmos de outro modo que não o "normal" nos faz diferentes e subversivos. Aos seus olhos somos lobos rodando seu rebanho em busca de sangue que alimente uma sede que existe apenas nos seus medos, alimentados pelas mentiras que de nós contam.

Mas é esta a realidade na qual eles vivem, e assim tem sido por séculos e séculos enquanto nossas vozes ficaram em silêncio nas brumas do terror em que vivíamos ou da ignorância em que nos encontrávamos. Isso quando não éramos nós membros dos rebanhos que seus líderes agora atiçam contra nós. Mas esses líderes não têm medo de nós, e sim de perder seu poder sobre o "rebanho que acorda", pois sua fé não está na religião que pregam, e sim no poder que ela lhes concede.

Praticamente todos nós "acordamos dentro da Matriz" em algum momento de nossas vidas, e salvo raríssimos casos de pagãos que saem de suas comunidades e têm paciência suficiente para travar contato conosco, encontramos apenas outros que como nós emergiram da realidade egocêntrica de suas próprias ilusões para passar a teorizar sobre a fé pagã sem compreender nem seus conceitos básicos nem que ela só pode ser vivenciada quando nosso foco está na comunidade, e não em nós mesmos.

Na verdade, poucos de nós realmente conseguem compreender isso e, ou voltam às vidas "normais" que viviam, ou adormecem em novas ilusões que imaginam ser o Paganismo ou, pior ainda, tornam-se os "pastores" desses novos rebanhos, através dos quais adquirem um poder que não compreendem, mas pelo qual ficam viciados.
Aliás, muita gente faz mais pelo que os nossos Deuses pedem que trabalhemos de dentro desse "sistema" do que a grande maioria de nós, "aqui fora". Mesmo os "pastores pagãos" servem de instrumento para quem busque uma prática séria ter contato com quem os possa indicar um caminho que lhes sirva. Nossos Deuses são bem mais capazes e versáteis do que cremos, e sobreviver é uma arte que Eles sabem melhor do que qualquer um de nós possa sonhar.

Quanto aos "adormecidos", o confronto entre nossos mundos não é um caminho válido para solucionar mais de dois milênios de propaganda que nós mesmos, pagãos, começamos. Afinal, quem começou a toda a propaganda contra povos que pensavam diferente foram os grandes conquistadores como Átila, Alexandre, Marco Pólo e Júlio César. Todos pagãos. As novas religiões apenas alimentaram a fogueira que nós mesmos montamos, e hoje em dia o trabalho deve ser de conscientização.

Tudo bem alguém viver ignorante quanto à realidade de certas coisas. Isso é apenas o natural, pois ninguém sabe tudo de tudo, e da maioria não sabemos absolutamente nada. Assim, para aquela realidade nós próprios estamos adormecidos também. O que é preciso é que saibamos encarar aquilo que não conheçamos sem agressividade, e esta é a lição que precisa estar em nossa mente quando tentamos explicar para o mundo que acordamos para uma realidade diferente da que eles vivem hoje em dia. Cabe a nós lembrar que nossa luta não é para sermos melhores que ninguém, e sim pelo direito de sermos nós mesmos.


Seja bem-vindo à crua realidade em que vivemos. Que os Deuses te abençoem nas notas sintetizadas de "Come With Me", programada pelo Information Society. Acompanhe também a letra e a tradução desta canção.

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1 Comentários:

Blogger Márcia R. disse...

Muito legal eu cair nesse post de "Os adormecidos" justamente hoje...
Ele vem de encontro a vários pensamentos meus, coisas que ando digerindo e pensando sobre :)
Um pouco antes de ler, estava exatamente conversando com minha mãe sobre a Zona de Conforto onde nos colocamos, e de onde é tão difícil sair.
Fiz questão de contar porque (de jeito nenhum !!!) isso é uma coincidência... hehe
Olha o Universo conspirando...
Blessed Be !
;)

22 abril, 2007 12:39  

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