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Bardo da Ordem Druídica Vozes do Bosque Sagrado.

19 de julho de 2007

Suspenso no Vazio

Esses dias, conversando na internet, li uma pessoa não saber definir o quanto as definições de Druidismo que eu sigo e as que ela havia encontrado são diferentes. Em seguida, para definir esse momento de angústia em que tudo o que acreditamos cai por terra e não sabemos mais em que direção seguir, sentindo-nos absolutamente perdidos, eu disse:

— "É como estar suspenso no vazio".

A pessoa com quem conversava concordou.

Pensei por um tempo o quanto é doloroso para quem busca o Druidismo como religião tentar garimpar informações no mundo atual. Antes era praticamente impossível devido à falta de acesso a qualquer informação, mas hoje a dificuldade continua imensa, justamente pelo excesso de informações.

Tudo o que é dito e disseminado tem as mais diversas fontes. São cientistas (os que prestam e os que não valem o canudo que ostentam), místicos de toda sorte, muitos charlatães, pessoas empenhadas em causar o caos – e isso é muito comum principalmente na Internet – ou bem-intencionadas mas que não fazem idéia do que dizem, os que querem mostrar-se sábios para suprir suas carências ou revoltas (com ou sem causa), religiosos (raramente druidistas, quem dirá sacerotes) e uma mídia ávida por vender e que às vezes esbarra no nome Druidismo para enaltecer algo que, quando estudado seriamente, de druídico não tem nada.

Peguei-me de súbito suspenso no vazio por um instante. Espantado com o paradoxo da ausência e do excesso de informação terem o mesmo efeito, e sentei-me para escrever. Lembrei-me do meu tempo de hermetista e dos ensinamentos do meu antigo mestre, e em seguida veio-me à mente o Tao Te King que recebi de uma amiga e sempre está por perto para me dar conselhos sábios e respostas certeiras. Sem abri-lo a frase "o sábio se esconde na multidão" brotou da minha alma, fechando esse ciclo da minha tempestade de idéias. A melhor alegoria que tenho para explicar esses segundos de reflexão é a de um caminhante parando e virando-se para contemplar as pegadas que deixou no caminho percorrido. E essas pegadas mais uma vez me foram inestimavelmente úteis!

Compreendi que talvez não por intenção, talvez não por mero capricho, mas porque eu busquei as informações que "o mestre veio a mim quando eu estava pronto" – uma máxima que todo mago adora – quando conheci a druidesa de nossa Ordem. Ao contrários dos "mestres" da tv, ela se mostrou como alguém que simplesmente soube correr atrás da informação, pensar e, acima de tudo, ponderar. Esse é o maior ensinamento que recebi dela e de todos os mestres com quem tive o prazer de conversar e estudar: pesquisar atentamente, refletir incessantemente e questionar coerentemente, mantendo sempre no coração que muitas, mas muitas vezes a única resposta possível é eu não sei. E justamente por não sabermos devemos pesquisar sempre mais e melhor.


Muitas pessoas buscam conhecer o Druidismo, e muitas tentam tomar para si o seu nome e o que ele seja, mas eis o conselho que eu dou a quem busca conhecer ou vivenciar o que ele realmente é:

Procure por livros de autores sérios, que tenham suas informações comprovadamente extraídas de livros de história e arqueologia. Prefira os autores consagrados, mas tenha sempre em mente que todo autor também pode errar, principalmente quando opina sobre algo.

Encontre pessoas sérias com quem possa trocar experiências e idéias. Esqueça grupos, "gurus" ou "sacerdotes" que prometem mundos e fundos. Sua busca será solitária até que, por muito insistir, alguém aparecerá em seu caminho oferecendo não soluções, mas meios para que você mesmo encontre suas respostas. É deste tipo de pessoas que os grupos sérios nascem, e não existe espaço para pressa neles.

Não tenha medo de questionar. Quem teme a pergunta corre o risco de ou assumir respostas tortas ou desistir de seguir adiante. Nessa confusão os conceitos básicos se perdem e, com eles, todo o resto. Daí nascem a dúvida, o medo, a revolta e a soberba, entre tantas outras mazelas.

Conheça seus limites. Ao tentar abraçar o mundo com as pernas tudo o que você consegue é ficar sentado de pernas abertas no chão, e assim ninguém caminha. Siga um passo por vez, no seu ritmo, de forma bem confortável. Quando o desconforto tiver de aparecer para que você aprenda com ele é uma coisa, mas causá-lo a si não vale à pena.

Caminhe com humildade mas de cabeça erguida. Ouça atentamente a tudo o que lhe for dito, mas reflita muito antes de tomar por certa qualquer "verdade". Respeite quem é mais antigo no caminho e na vivência, mas jamais se esqueça de que o seu processo é chamado assim pois somente você o pode vivenciar. Raízes de outras árvores não transformarão a tua semente em carvalho.

Não divulgue suposições e impressões como se verdade fossem pois é essa prática que dificulta o acesso de mais pessoas a informações de qualidade. Esqueça sacerdócio e rituais. O Druidismo não funciona da mesma forma que, por exemplo, a Wicca como a mídia deixa a entender, e não é preciso iniciar-se ou dedicar-se para tornar-se um druidista. Basta crer nos nossos Deuses e vivenciar a nossa religião. Bem simples. Bastante diferente. Nem melhor, nem pior.

Lembre-se de que você não estará sozinho, pois os Deuses acompanharão seus passos e estarão sempre olhando por ti, não para que nada lhe aconteça, mas para que você seja capaz de lidar com tudo o que enfrentar durante a sua jornada.


Alexandre Malhado


E, para quem não sabe o que é estar só ou para quem acha que sabe, eu voto na definição do Chico.


Solidão

Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo...
Isto é carência!

Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar...
Isto é saudade!

Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos...
Isto é equilíbrio!

Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente...
Isto é um princípio da natureza!

Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...
Isto é circunstância!

Solidão é muito mais do que isto...

Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma.

Chico Buarque


Boa caminhada!!! E enquanto não nos encontramos pelos caminhos dos Deuses ou pelas trilhas do mundo, escute "Linha do horizonte", cantada pelo Azymuth, prestando atenção na letra desta canção.


Com agradecimentos a tantos que não há espaço para dizer. Alguns pela Inspiração, outros por contribuições durante essa reflexão, e todos por estarem no caminho quando eu precisei de uma voz humana para soprar o que os Deuses não conseguiam me fazer escutar de outro modo.

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1 Comentários:

Blogger Flor disse...

Finalmente, consegui um dia para visitar minha casa, rever meu computador, e ler-te!

E percebo uma mudança no mínimo interessante em teus textos..
Idéias mais radicais..
Você está se expressando de uma forma mais sincera e crítica...
E nada melhor para nós, os teus leitores, saborear de diversos gostos, tuas ousadas palavras!

Continuarei, nesta madrugada... por aqui...
Hoje, para mim, nada melhor que ouvir..

Beijão bardo!
Saudades...

20 julho, 2007 01:28  

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