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Bardo da Ordem Druídica Vozes do Bosque Sagrado.

11 de maio de 2007

A Maldição de Macha

    Macha era uma deusa equivalente a Eponina dos gauleses e a Riannon dos galeses. As três tinham o cavalo como animal totêmico. Uma de suas encarnações apareceu no Ulster na época céltica diante de Crunnchu Mac Agnoman, um homem bom que desfrutava ainda de todos os bens a que podia aspirar: era nobre, rico e tinha quatro filhos. Porém, havia ficado viúvo e desejava uma nova esposa. Querendo agradá-lo, Macha chegou um dia a sua casa com o aspecto de uma bela mulher que, sem nada dizer, colocou-se a seu serviço. Organizou o lar, deu ordens aos criados e à noite sentou-se para cear junto com o surpreso Crunnchu, que, como bom homem de sua época, não havia se atrevido a dizer-lhe nada, temendo que fosse o que realmente parecia ser: um habitante do além, daqueles que de vez em quando visitavam os humanos por algum motivo específico. Assim, cearam em silêncio e, já na hora de ir para a cama, ela apagou o fogo e se deitou com ele. Naquele momento, ofereceu-lhe "a amizade de suas coxas" que, apesar de ser uma forma habitual, na época, para designar o ato sexual, é uma das descrições mais poéticas já concebidas para referir-se a esse ato. Pelo simples fato de fazer amor com ele, e de acordo com a tradição céltica, a mulher se converteu em esposa de Crunnchu, que deve ter ficado muito satisfeito com essa estranha relação, já que não teve nenhum inconveniente em reconhecê-la como sua nova companheira, uma vez que todos os indícios apontavam para sua origem não-humana.
    Como deusa protetora dos eqüinos — um dos animais mais apreciados pelos guerreiros celtas — e como mulher apaixonada, Macha aumentou a prosperidade de Crunnchu, pois o número de seus cavalos se multiplicou de forma assombrosa. Ela gostava de competir com os quadrúpedes, correndo pelas pradarias ao amanhecer, quando ninguém a via. Para completar o quadro ideal, logo ficou grávida. Mas se a história de ambos tivesse sido realmente feliz, não teria ficado registrada na memória...
    Ocorre que Crunnchu foi assistir a um dos festivais-assembléias anuais dos quais todo mundo participava, ainda mais sendo um nobre de sua categoria. Macha havia lhe pedido que ficasse em casa, advertindo-lhe que, se falasse dela para os amigos e conhecidos, atrairia todo tipo de desgraça, até mesmo a separação. Crunnchu insistiu, dizendo que não poderia deixar de ir, e, para tranqüilizá-la, prometeu não dizer nem uma palavra sobre seu relacionamento. O próprio rei do Ulster, Conchobar, acompanhado dos druidas e dos nobres mais importantes do reino, presidiu os festejos. Num certo momento, para agradá-lo, alguém alardeou a velocidade de seus cavalos, asseverando que não havia outros mais rápidos em todo o mundo. Todos concordaram e lhe deram razão..., menos Crunnchu, que, sem conseguir se conter, rompeu sua promessa ao afirmar que sua mulher corria mais que qualquer quadrúpede. Contrariado, Conchobar ficou com raiva e mandou prendê-lo. Considerou que as palavras do nobre eram um menosprezo para um de seus melhores bens e exigiu uma reparação excessiva: se o que Crunnchu tinha dito é certo, ela deveria demonstrá-lo, competindo com seus cavalos naquele mesmo instante e diante de todos. Assim, eles forçam Macha a ir para o festival sob pena de matarem seu marido se ela resistisse e, ao chegar, o rei lhe ordena que corresse contra seus animais. De nada serviram seus protestos e suas apelações tanto para Conchobar como para os demais ali reunidos, pedindo-lhes um tempo para acabar o prazo de gestação mais que evidente no qual se encontrava; lembrou-lhes que todos tinham mãe e perguntou-lhes como se sentiriam se alguém obrigasse a cada uma delas a uma prova semelhante durante a gravidez. Mas os ulatos estavam muito animados devido ao álcool e à festa e lhes pareceu muito atrativo aquele desafio extravagante.
    Enfim, Conchobar deu um ultimato a Macha, que não teve mais remédio a não ser aceitar a corrida. Eles trouxeram os cavalos em meio ao regozijo geral e teve início a competição, que acabou sendo enfim muito breve, pois ela se adiantou sem dificuldade e alcançou a chegada com muita vantagem. No entanto, ao chegar ao final, caiu ao solo gritando de dor e naquele mesmo instante deu à luz gêmeos. Os que estavam perto, ao ouvir seus gritos atormentados, se deram conta do que haviam feito e tentaram ajudá-la, mas eram incapazes de se mover: logo se sentiram tão fracos como uma mulher que acabara de ter um parto difícil. Nesse momento, a mãe-deusa se levantou e anunciou solenemente que ela era Macha e que com aquele nome seria conhecido para sempre aquele lugar — hoje ainda se pode ver o pouco que resta de Emain Macha, o Palácio dos Gêmeos de Macha, na Irlanda do Norte. E Macha fez mais: amaldiçoou todo o povo do Ulster porque nem um entre eles teve piedade de seu estado e obrigaram-na a competir. A partir daquele momento, a vergonha e a desonra que os homens provocaram-lhe voltariam multiplicadas para eles e cada vez que seu reino estivesse em perigo se sentiriam tão fracos e indefesos como uma mulher dando à luz.
    E assim foi. Somente as mulheres, as crianças e o herói Cuchulainn — filho de Lug, e portanto imune à maldição — ficarão a salvo desse tabu lançado por Macha antes que sua encarnação mortal pereça. Um tabu que, em princípio, deveria durar somente nove gerações...

Texto extraído do livro Os Mitos Celtas, de Pedro Pablo G. May. Ed. Angra, págs. 46 a 49.


Aproximando-se o dia das mães, vale lembrarmos que a vida multifacetada dessas maravilhosas mulheres que são ao mesmo tempo mães, esposas, amantes, líderes, profissionais e, neste caso, até Deusa não é nada fácil. Aproveite o seu fim-de-semana ao lado daquela que lhe trouxe ao mundo e, caso não seja possível, agradeça aos Deuses por ela ter-lhe aberto a passagem que o trouxe do Outro Mundo para cá, e para esta aventura fantástica à qual damos o nome de vida.


Sorria para sua mãe ao som de "Uma Nova Mulher", cantada por Simone. Acompanhe a letra pelo próprio link e beije a mulher que presenteou com o dom da vida durante todo esse final de semana e, por que não, sempre!

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2 Comentários:

Blogger Nil Borba disse...

Olá!

Confesso que terei de voltar e ler com mais atenção, achei bastante profundo os textos..mas , gosto do desafio..rs

Beijos n

11 maio, 2007 21:05  
Blogger Su disse...

Amei!

12 maio, 2007 03:03  

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