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Bardo da Ordem Druídica Vozes do Bosque Sagrado.

2 de outubro de 2007

Pesadelo

Eu tive um pesadelo esta noite.

Nele eu caminhava por uma cidade sem árvores, feita de tons de cinza e matizes negros de fumaça fétida que cobria o próprio Sol. O ar entrava com dificuldade em meus pulmões enquanto incontáveis carros disformes e encantados, feitos de algum metal frágil e colorido, cortavam as estradas como um estouro de gado ensandecido sem ter o que os puxasse enquanto pessoas encolhiam-se dentro deles com um semblante de pressa.

Nunca imaginei estar num lugar com tantas cores diferentes e desconhecidas, ainda assim, completamente cinza. Era como se um exército inimigo estivesse batendo às suas portas, mas sua indiferença com seus sorrisos vazios de medo, coragem ou significado me diziam que para aquelas pessoas aquilo era o normal. E para todo lado que eu olhava era apenas isso que eu via, e a pressa daquelas pessoas falando sozinhas e segurando as próprias orelhas era algo aterrorizante.

Raios colhidos de tempestades jaziam presos em vasos transparentes das mais variadas cores e formas por algum feitiço que sequer consigo imaginar, e à medida em que a claridade desaparecia sem que eu pudesse observar um poente eu ansiava pelas estrelas que me dariam um rumo para longe dali. Mas elas não vieram, e por detrás do manto fumacento eu via o que deveria ser a lua, tão distante de mim que o vazio transformou-se em abismo.

Descobri que ali não havia para quem contar as histórias e os mitos que narram as sagas de meus heróis e os feitos de meus Deuses. Sentei-me num banco esculpido na pedra, numa praça morta, e comecei a entoar uma melodia para aplacar minha tristeza. Nenhuma atenção de volta à minha arte, minhas palavras se perderam ao vento sem ter a quem Inspirar.

Finalmente uma senhora, a única pessoa que me viu nessas horas em que havia sentido invisível, falou algo num idioma que lembrava o dos conquistadores, embora eu não soubesse descrever qual era na verdade. Respondi e perguntei que lugar era aquele, e ela também não me entendia. Falou outra frase e nela reconheci um dos nomes do Outro Mundo. Entendi então que havia morrido e que o céu acabara de cair sobre minha cabeça.

Aguardei as águas do oceano engolirem minha alma enquanto a senhora caminhava para longe, sem sucesso em ajudar-me. Uma espécie de guerreiro apareceu diante de mim, e eu não entendia o que ele dizia também. Parecia que queria me levar com ele a algum lugar, e fazia sinal para que eu o seguisse até um daqueles carros enfeitiçados e esquisitos.

Entrei, haviam mais três com ele e fui até uma construção daquelas construções de que era feito aquele lugar. Lá tentaram se comunicar comigo em vários idiomas, mas só o que consegui falar pelos meus gestos foi que tinha fome. Trouxeram-me um pão com coisas dentro que foi das piores comidas que já provei. Por sorte havia um líquido negro e quente que me deu ânimo de terminar de me alimentar e seguir meu rumo. Agradeci, abençoei a todos e segui caminho.

A última coisa de que me lembro foi de adormecer ao pé de uma bela árvore que jamais vi, uma das raras que encontrei naquele lugar hediondo. Suas flores amarelas me deram o mínimo de paz para que eu adormesse ali. Mas acordei pouco depois com dois garotos apontando algum tido de estátua de ferro em minha direção e, sem entender o que diziam, ouvi um forte estalo e uma dor no peito enquanto tudo escurecia.

E foi quando o riso das crianças brincando me acordou. Senti minha cama e o cheiro de minha terra. Toquei meu peito e não havia ferimento algum, então levantei-me num salto, olhei em volta e vi o céu limpo de outono, a brisa fria e as pedras ao longe. Servi-me de uma maçã e agradeci aos Deuses que tudo aquilo foi apenas um pesadelo.

Estou finalmente em casa.

Alexandre Malhado


Acorde de seus pesadelos ao som de "The Dream", tema do filme "Amores Eletrônicos" cantada pelo Culture Club. Acompanhe também a letra e a tradução desta canção.

Com agradecimentos a Ana Cláudia pela Inspiração.

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4 Comentários:

Blogger Melyanna disse...

Que pesadelo hein!!! Credo, uma cidade que praticamente tem apenas uma única árvore, ñ consigo conceber tal lugar!

Com certeza, iria morrer a cada dia com a ausência das plantas e dos outros animais. Definitivamente ñ pertenço a mundos como o relatado!!

Adorei a dedicação do post :*****

Bjoss

PS: Me diga depois o q te falei para lhe inspirar o post, ok?

02 outubro, 2007 23:39  
Anonymous Anônimo disse...

abencoe seus deuses mesmo :)
acredito q mesmo pesadelos nos mostram uma outra visao do q nao vemos mas sabemos...

pra mim foi ate abencoado por ter tido oportunidade de enxergar algo a mais do q enxerga, e a resposta esta em ti mesmo

abracos de seu amigo

03 outubro, 2007 12:29  
Anonymous Anônimo disse...

perdao..
quis dizer.
"Agradeca aos deuses" e nao abencoe

abracos

03 outubro, 2007 12:30  
Anonymous Anônimo disse...

Que pesadelo!
Um mundo sem árvores e sem deuses seria um horror...

Abraços, flores, estrelas!

09 outubro, 2007 08:40  

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