A Sorveira e o Carvalho

Material de Estudo Sobre Druidismo e Celtas
Agora atualizado apenas no novo site:
http://bardomalhado.wordpress.com
 

Nome:
Local: Brasília, DF, Brazil

Bardo da Ordem Druídica Vozes do Bosque Sagrado.

10 de março de 2009

Coerção e Vergonha

A primeira coisa que me perguntei antes de postar este texto foi "quem sou eu para questionar o dogma de uma fé a qual não professo". A resposta foi simples e direta: sou um cidadão, reagindo a uma tentativa de intervenção de uma instituição religiosa em meu país através de uma tentativa de coerção.

Não sou ninguém para julgar valores de qualquer fé, mas nenhuma religião deve meter o bedelho numa sociedade civil laica, e é meu dever esclarecer o meu povo a esse respeito e, porque não, com um pouco de cultura.

Seria bom que a instituição em questão tratasse das mazelas e escândalos em seu corpo clerical antes de sonhar em molestar a sociedade, mas novamente isso não me diz respeito. Então, como me diz respeito falar a quem me lê pois este é o meu povo, convido a todos a repensar suas próprias mazelas, suas próprias injustiças, seu papel como algoz ou vítima e, principalmente, seus valores e a preciosidade de preservar o direito inato de cada um viver conforme os próprios valores, dentro dos limites estabelecidos pela lei e pelo Estado, atuando dentro dele para que possamos viver num mundo cada vez menos injusto e lutando, sim, contra injustiças que ataquem nosso povo ou quem nos cerque.

Por fim, e já que a palavra respeito é algo muito usado e pouco compreendido... reflita a esse... respeito.


A Excomunhão da Vítima
Miguezim de Princesa


I
Peço à musa do improviso
Que me dê inspiração,
Ciência e sabedoria,
Inteligência e razão,
Peço que Deus que me proteja
Para falar de uma igreja
Que comete aberração.

II
Pelas fogueiras que arderam
No tempo da Inquisição,
Pelas mulheres queimadas
Sem apelo ou compaixão,
Pensava que o Vaticano
Tinha mudado de plano,
Abolido a excomunhão.

III
Mas o bispo Dom José,
Um homem conservador,
Tratou com impiedade
A vítima de um estuprador,
Massacrada e abusada,
Sofrida e violentada,
Sem futuro e sem amor.

IV
Depois que houve o estupro,
A menina engravidou...
Ela só tem nove anos,
A Justiça autorizou
Que a criança abortasse
Antes que a vida brotasse
Um fruto do desamor.

V
O aborto, já previsto
Na nossa legislação,
Teve o apoio declarado
Do ministro Temporão,
Que é médico bom e zeloso,
E mostrou ser corajoso
Ao enfrentar a questão...



VI
Além de excomungar
O ministro Temporão,
Dom José excomungou
Da menina, sem razão,
A mãe, a vó e a tia
E se brincar puniria
Até a quarta geração.

VII
É esquisito que a igreja,
Que tanto prega o perdão,
Resolva excomungar médicos
Que cumpriram sua missão
E num beco sem saída
Livraram uma pobre vida
Do fel da desilusão.

VIII
Mas o mundo está virado
E cheio de desatinos:
Missa virou presepada,
Tem dança até do pepino,
Padre que usa bermuda,
Deixando mulher buchuda
E bolindo com os meninos.

IX
Milhões morrendo de Aids:
É grande a devastação,
Mas a igreja acha bom
Furunfar sem proteção
E o padre prega na missa
Que camisinha na lingüiça
É uma coisa do Cão.

X
E esta quem me contou
Foi Lima do Camarão:
Dom José excomungou
A equipe de plantão,
A família da menina
E o ministro Temporão,
Mas para o estuprador,
Que por certo perdoou,
O arcebispo reservou
A vaga de sacristão...


Escandalize-se ou delicie-se ao som de "Blowing in the Wind", em sua versão original com Bob Dylan. Acompanhe a letra e acompanhe a tradução se desejar.

Com agradecimentos a Bandruir por me mostrar o poema.

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1 de outubro de 2007

Sacerdócio e Momentos

Uma das coisas que o sacerdócio nos dá é uma perspectiva única sobre a forma de reconhecer e buscar aquilo que nos é divino. Cada sacerdote observa sua comunidade com atenção visando detectar oportunidades em que algum dos nossos precise de nossa voz, nosso apoio ou mesmo nossa presença, seja para celebrar ou lidar com momentos importantes em suas vidas.

Este poema lembrou-se disto. Lembrou-de dos momentos nos quais uma pessoa precisa de alguém para lembrá-la de que por mais impossível que pareça uma situação existirá, sempre, uma resposta. Basta-nos procurar adequadamente.

Boa leitura! Ademais, é minha poetisa predileta quem escreve.


Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?

Cecília Meireles


Encontre e renove-se ao som de "Calling You", cantada por Jevetta Steele e tema do imperdível filme Bagdad Cafe. Acompanhe a letra e o vídeo clipe desta canção.

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27 de agosto de 2007

Mazelas e Sabedoria

"Eu transformo as minhas mazelas em sonhos e sabedoria
e espalho palavras ao vento para quem as quiser colher
E então estas pessoas as lêem para enternecer seus dias
ou iluminar noites onde suas almas fazem os olhos chover"

Alexandre Malhado



Inspire-se na dor que o "Adagio para Cordas" de Samuel Barber nos faz sentir em seus acórdes melancólicos e retire de cada bela nota um impulso para tornar esta músicas na luz que iluminará as mais escuras noites do seu ser, pois como mostra este vídeo do DJ Tiësto, mesmo a mais triste melodia pode tornar-se um pulso de alegria e uma celebração da maior de todas as canções: A Vida!

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23 de agosto de 2007

Shisé



Que mistério envolve o teu olhar
Essa dança tão sedutora que me faz admirar
O balanço do ventre, tão vibrante e quente.

Ela caminha com delicadeza, tem a pele clara,
os olhos brilhantes como diamantes.
A boca pequena, lábios de cor cereja,
perfume suave flor de açucena.

Tão linda, tão serena...

Cativante, espera ser cativa.
Que teus véus caiam lentamente
Criando um clima diferente

Buscando na alma
Buscando na alma da mulher que seduz se sentir
seduzida
Por quem te conduz nesta vida.

Ser dele e a ele pertencer somente.


M. G., a Garota Teutã
que agora dança em outros jardins.


Dance, Inspire-se, emocione-se e, principalmente, ame escutando este poema ao som de "Metade e Léo e Bia", cantadas ao vivo e em seqüência por Oswaldo Montenegro. Acompanhe a letra de "Metade" e a de "Léo & Bia", e se o clipe acima não abrir, clique aqui.

Dedicado a uma Garota Teutã, ao seu "Léo" que bem soube amá-la e a um General guerreiro que sempre lutou por eles.

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5 de agosto de 2007

4º Motivo da Rosa

Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verá, só de cinzas franzidas,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

Cecília Meireles


Um poema é isso. É transmitir uma sensação codificada em pequenos sinais com tanto poder de modo que nossos olhos apenas os levem até nosso coração, onde finalmente poderão ser lidos com a precisão necessária que lhes falta.

E, dançando com a poesia, um Bardo torna-se aquele sentimento e atravessa a fronteira entre-mundos, lançando-se através da linha do tempo vislumbrando a riqueza de nosso passado e as possibilidades de nosso futuro. É assim que torna-se sensível o suficiente às pessoas que o cercam para poder ensinar-lhes as lições que traz em sua alma, seja pela arte que use ou na profissão que abrace.


Torne-se sentimento através deste poema e do samba "As Rosas Não Falam", uma das tantas pérolas que nos foi deixada pelo saudoso Cartola. E como nem só de poesia é feito o ofício do Bardo, ouça ainda Paulinho da Viola explicar como foi a primeira execução pública desta canção e em seguida cantá-la, numa linda "homenagem" ao poeta.
Acompanhe também a letra e a um vídeo desta canção com Alcione, a nossa Marrom, e o cantor angolano Waldemar Bastos.

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12 de julho de 2007

Senhora de Todas as Horas

Todos temos nossos conceitos de divindade. Eis um texto que acho particularmente interessante, não apenas por ser aplicável a tantas Deusas que, mas por trazer em si uma enorme força de mulher!


Bênção

Senhora de todas as horas
Meretriz de todas as emoções
Refúgio de todos os filhos
Banha-me a alma púrpura
Abençoa-me o corpo carmim
Receba-me, mundana e pura
Abraça-me, virtuosa e perversa
Unge-me Senhora,
Clara e escura.

Tatiana Mamede

Deleite-se com este poema enquanto escuta "A Desafiadora", de Jan Duarte. Um artista da minha cidade e sugestão da própria autora do poema (ou seria da da bênção?).

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1 de junho de 2007

Bênção aos Poetas

"Que Dagda abençoe sua mão com firmeza e foco,
e Brigit apazigue sua alma de toda distração
Que Oghma Inspire e guie os traços de tua pena,
e a palavra dos Deuses sejam versos da sua canção"

Alexandre Malhado



Hoje sem comentário algum de minha parte. Inspire-se e comente ao som de "Canções e Momentos", cantada por Milton Nascimento. Acompanhe a letra e assista ao vídeo clipe desta canção.

Com agradecimentos a Alexandre Magno pela música e a Fernando Barbosa e Edson Marques pela Inspiração.

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2 de abril de 2007

Imagina

Imagina uma semente... Imagina um chão... Imagina uma nuvem... Imagina um trovão!
Imagina uma chuva... Imagina um sol... Imagina uma brisa... Imagina um caracol...
Imagina um tempo... Para que possamos organizar tanto imaginar! De onde se descobre no final que só precisava de um bastar!
Imagina um sorriso... Imagina um olhar... Imagina uma lágrima... Imagina um acenar...
Imagina um abraço... Imagina uma palavra!...Que por toda vida se fez esperar,
Por vontade, por querer nela acreditar!...Imagina um céu... Imagina uma estrela...
Imagina um gritar!...Imagina um sentimento... Imagina uma vida... Imagina outra vida...
Imagina um encontrar!...Unindo-se a uma só existência!Girando no espaço em constante rotação! Preza em uma esfera de emoção! Numa procura
Incessante de prazer e emoção! Doando-se sem nunca se cansar
Mesmo que tendo de sonhos se alimentar!...Imagina um rio...
Imagina um desabar... Imagina um arco-íris... Imagina um vento a soprar...
Imagina um dia... Imagina um céu estelar... Imagina um inicio...
Imagina um meio... Imagina um parar... Sem ter um fim,
Pois não coube ser descrito por desde o começo não poder constar!
Tornando tudo em aventura um só imaginar!
Falando de uma tal solidão que chegava sem rumo e de tudo já ia se apossar,
Transformando em um nada que não se permite deixar bastar!
Imagina um corpo... Imagina uma mente... Imagina um coração... Imagina não pensar...
Imagina não querer... Imagina a si mesmo abandonar!
Pois a alma senhora de nos somente ela sobrevivera.
Imagina então... Imagina tudo que iria restar... Imagina ter valido a pena...
Imagina nada deixar... Imagina um bastar... Imagina um oceano... Imagina um reencontrar... Imagina uma montanha... Imagina um quebrar... Imagina uma imagem...
Imagina um criar... Imagina uma ilusão... Imagina um falar... Imagina um sair...
Imagina um não voltar... Imagina ganhar asas!...Imagina para as alturas voar! Disputar
Corrida com o vento! Entre nuvens brincar! Esquecer desse mundo! Não ter pressa nem
Hora marcada para voltar! Imagina uma canção... Imagina um soluçar... Imagina um pedido... Imagina um livrar... Imagina um vazio... Imagina um colocar... Imagina um cheiro!...Imagina um agradar... Imagina um contentamento... Imagina um passar...
Imagina uma noite... Imagina um luar... Imagina uma estação... Com mês, hora, para terminar para no ano seguinte tudo recomeçar! Imagina... Imagina!...E só imaginar!

Zilda Santos


Navegando pela Internet deixei-me levar a uma página onde havia esta poesia. Devaneando enquanto surfava pelo oceano digital, deparei-me com este convite à imaginação.

Imagine você também, saboreando a canção homônima "Imagina", declamada por Chico Buarque e com participação de Paula Morelenbaum. Acompanhe a letra pelo próprio link e assista também ao vídeo clipe.

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29 de março de 2007

Quem Somos

Somos o sorriso do encontro
e o veneno da discórdia
O abraço do velho amigo
e a maledicência da sogra

Somos a mão estendida em auxílio
e o aperto cruel do estrangulamento
O ensinamento passado de pai para filho
E o pranto carpido de um tormento

Somos o parto, somos o brilho do aço
o som de mil guerreiros num galope
A criança dando seus primeiros passos
e a lança quebrada na hora do golpe

Somos a luz da alvorada
e a sombra da meia-noite
O primeiro vislumbre da vida
e o suspiro na hora da morte

Alexandre Malhado


Defina-se ao som de "Somos Quem Podemos Ser", do Engenheiros do Hawaii. Acompanhe a letra pelo próprio link e o vídeo clipe clicando aqui.

Com agradecimentos a Thaís Lucas pela sugestão musical.

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23 de março de 2007

A Veia Poética

"Mesmo sem muito tempo,
mas imerso em saudades
vim deixar-te um beijo
e um abraço de amizade"

Alexandre Malhado



A veia poética que nos arrebata quando nos tornamos Bardos é uma faca de dois gumes. É Brigit por um lado nos pegando pela mão e ensinando a desenhar as primeiras letras, e Oghma pelo outro contando-nos estórias que traduzem a sabedoria do universo.

Podemos ser taxados de bregas, de piegas e de farsantes, mas o importante é escrevermos, transmitirmos nossas idéias e pulsarmos nossos sentimentos através da pena ou da tecla que usemos para colocar nossas palavras à frente dos olhos e ouvidos alheios, e nesse processo aprendermos cada vez mais a falar melhor, expressar melhor, encantar melhor os que nos escutam.

Quando essa veia resolver pulsar, dance com ela. E dane-se a opinião de críticos que buscam apenas te botar para baixo, mas que seja sempre bem-vinda a crítica que te fará crescer, pois o sabor refinado do pêssego não é possível sem antes tomar forma a pessegueira, e assim também é com o poeta, que precisa da experiência do tempo para brotar em si, abraçar o mundo e fazer verdades verterem dos olhos de quem o lê.


Inspire-se ao som de "O Poeta Está Vivo", declamada pelo Barão Vermelho. Acompanhe a letra pelo próprio link e confira também o vídeo clipe desta canção.

Com agradecimentos a Tamira Rocha pela Inspiração.

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20 de março de 2007

Os Poetas, Os Bardos e o Mar das Idéias

"Os poetas, os loucos - eu, você e mais alguns - seremos eternamente incompreendidos. Porque, onde os outros só vêem uma coisa e sua utilidade, nós vemos a coisa e seu fundamento. Nós vemos o todo poético de um universo dançante, e os outros só vêem a parte seca de um mero processo.
Os poetas brincamos com as palavras - os brutos fazem delas uma arma.
Para nós as palavras são flores;
Para eles - punhal".

Edson Marques



Todos temos nossos sites prediletos quando precisamos desesperadamente de uma luz que nos diga qual o próximo rumo a tomar no infinito oceano da imaginação. Passeando por um dos meus encontrei essa definição do que seja um poeta, nas palavras de um autor que admiro.

Assim também é com o Bardo, meu ofício por sacerdócio. Vemos o fundamento e experienciamos através dos mitos, das lendas e da história a sabedoria de tantos séculos, de tantos que vieram antes de nós. E navegamos pelo mar bravio das idéias que nos assolam e fortalecem, a fim de garimpar dele o alimento dos nossos textos: as palavras, peixes ariscos pescados com técnica, paciência e muitas vezes uma boa porção de sorte.

Nossos barcos não possuem canhões, não somos guerreiros da pólvora, mas temos arpões guiados pelas mãos de nossos Deuses com os quais podemos nos defender ocasionalmente, desde que jamais nos esqueçamos nossa principal arma: o fruto de nossa pesca.

Afinal, uma palavra pode transformar canhões em pó, e disso sabem tanto o Bardo quanto o poeta.


Inspire-se ao som de "Lifelines", do A-Ha. Acompanhe a letra pelo próprio link e a tradução clicando aqui. Assista também ao vídeo clipe desta canção.

Com agradecimentos ao autor tanto pela frase quanto pela Inspiração.
Para Márcia. Desejo-te horizontes limpos e belas leituras, moça.

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3 de janeiro de 2007

Guerreiro

Foto de uma mulher abraçando um homem.  Jonnie Miles.Ilusões alimentam os seios,
esses descansos do meu guerreiro
tão pequeno, tão menino, tão forte e
tantas vezes ladino.
É um repouso regado a sonhos
cristalinos,
verdejantes de espera
amarelados de espera
avermelhados de espera
Rubras são as faces que
sorriem para o guerreiro,
pálidas, as mãos que o suportam.
O púrpura batimento de aguardar
a chegada da espada,
das mãos calejadas e da face
daquele que foi a morte...
Tão pequeno, tão menino, tão forte
e tão triste guerreiro,
faz seu regato dos meus seios de ilusão,
alimente-se da minha espera.
Prepare-se para a nova guerra.

Tatiana Mamede


Cansado, aproveito meu descanso e a companhia de um poema, enquanto olho a tempestade que se forma no céu escuro de fim-de-tarde. Sábio é quem se permite aproveitar belas palavras e através delas Inspirar-se.

Descanse e Inspire-se escutando a música originalmente postada pela autora junto com este poema: "Love Warriors", cantada por Tuck & Patti.

Com agradecimentos à autora pelo belo poema.

Para Cecília. Faltam 3!

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1 de dezembro de 2006

O Vôo da Gaivota

(Nos Céus do Grande Espírito)

Gaivota amiga, voe livre!
É hora de voltar para casa.
Suas asas estão curadas.
O Grande Espírito abriu o portal: voe!
Fique tranqüila e olhe para cima.
O seu corpo ficou lá embaixo, na areia da praia.
A Mãe Terra o agasalhará.
Mas você continuará voando...
Além do horizonte, muitas amigas a esperam.
É hora do reencontro. Voe!
Nos céus da Terra, muitas gaivotas sentirão saudade de você.
Mas, tudo tem seu tempo, e é hora de ir para outros céus...
Voe, amiga, mais alto do que nunca, para além do infinito...
Não se preocupe com nada, apenas voe!
Sim, apenas voe, voe, voe...

Wagner Borges


"Perder" alguém traz uma dor que nos parece rasgar a alma. Esta dor não é possível descrever a quem nunca a sentiu e facílima de reconhecer nos olhos de quem a experimentou.

Às vezes vemos a morte levar as almas de nossos queridos para distante, onde habitarão no Outro Mundo com os Deuses aguardando o tempo de novamente estarmos juntos. Esta perda é a mais visível a quem nos cerca, e dói na carne enquanto vislumbramos os corpos inertes de nossos amados descerem à Terra ou adentrarem piras crematórias. É então que o rito de passagem da cerimônia de despedida e a solidariedade de outros que também sofrem por nós ou pelos que se foram nos alenta, e seguimos adiante.

Mas a situação muda quando a "morte" é de um relacionamento, de uma amizade ou de uma parceria, e volta e meia vemos esse "cadáver" sorrindo, brincando do outro lado da rua ou mesmo passando à nossa frente num evento. Sabemos que sua "morte" não foi para o mundo, mas para nós. Neste momento sentimo-nos ocos de significado, isolados do resto da humanidade como se fôssemos um cão sarnento à espera da misericordiosa injeção letal para pôr fim a nosso sofrer.

Dor e saudade sufocam-nos com os destroços da grande torre de esperanças, sonhos e bons momentos, e minguamos na incompreensão do porquê as coisas teriam seguido este curso. O anseio de "ressuscitar" algo, que em geral já não mais volta, partilha conosco o escasso ar em nossos pulmões... e morremos um pouco a cada dia.

Neste momento, a gaivota que se foi não mais faz parte desta página de nossas vidas, e precisamos decidir se continuamos a escrever a história de nós ou deixamos a tinta de nossas penas secar e não mais ser capaz de transmitir nossas experiências ao papel em branco de nosso futuro.

Mente vazia e coração pesado, nossos horizontes escurecem à medida em que fechamos os olhos para a vida e entregamos nossos corações às sombras de nossa alma. Então é hora de escolher se morremos também ou se abrimos os olhos e voamos rumo a novos horizontes.

Meu conselho? Abra suas asas e voe, gaivota! Existem muitos peixes no mar e muitos horizontes esperando pelo vislumbre dos seus olhos!


Voe nas asas de "Black Bird", interpretada por Sarah Mclachlan. Acompanhe a letra pelo próprio link e a tradução clicando aqui.

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29 de novembro de 2006

Confissões Minutas

Hoje estamos aqui reunidos
Para darmos fim a todo um trabalho
Trabalho que mais parece brincadeira
Pessoas que mais parecem crianças
No começo tudo dava medo
Tudo era desconhecido
Hoje não há mais segredo
Somos todos amigos
Pessoas que não se conheciam
Passaram a se conhecer
Pessoas que não se viam
Passaram a se ver
Pessoas que mal se olhavam
Passaram a se admirar
Pessoas que mal falavam
Passaram a palestrar
Hoje temos a certeza
De um objetivo alcançado
E de é preciso apenas um minuto
Para transmitirmos um recado
Neste curto período de tempo
Fizemos várias descobertas
Descobrimos que somos super-heróis
E que podemos do telhado voar
Descobrimos que somos pintores
E que podemos o mundo retratar
Descobrimos que um simples pedido de criança
Pode se transformar em uma caixa de esperança
Descobrimos que o amor da gente
Pode curar até mesmo a maior dor de dente
Descobrimos que somos capazes de levantar toda uma torcida
E que dentre as flores a margarida
Descobrimos que somos unicamente um
Um eu romântico
Um eu vilão
Um eu algoz
Um eu que acima de tudo
É agora capaz de dizer ao mundo de uma forma jamais dita
Eu te amo, através da voz
Hoje no findar deste
Cada um seguirá seu caminho
Levando contigo a certeza
De que jamais estará sozinho

F.A.B.


Este poema, feito por um poeta de quem eu há algum tempo quero publicar algo mas muito relutou em figurar aqui por prezar seu anonimato, relata-nos o processo de quando pessoas estão reunidas e permitem-se aproveitar a oportunidade de conhecer umas às outras. Mais que descrição, é o resultado de uma química que as une qual rejunte num mosaico construído a partir das tesselas da experiência de cada pessoa envolvida. No caso, participantes de um curso de oratória.

Embora este poema tenha sido escrito há uma só mão, inspirou-se em muitos corações para brotar, e você pode fazer um poema assim ou criar um poema a tantas mãos com os seus queridos quando quiser, criando um poema dadaísta.

Para tanto, cada um escreve um verso e enrola o papel de modo que apenas os dois últimos versos possam ser lidos por quem continue a estória, até que o grupo considere o texto finalizado.

Depois leia e divirta-se descobrindo seu "mosaico de versos".


Após fazê-lo, delicie-se com seu poema escutando "These Dreams", no vídeo clipe desta obra prima do Heart. Acompanhe a letra e a tradução desta canção.

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25 de outubro de 2006

Borboletear

Gira vento
Nas asas da Borboleta

Lépida e benfazeja
Brinca de mensageira
Trás vultos e histórias
Conta segredos
Suspirando amores

Gira vento
Nas asas da Borboleta

Vem brincar fagueira
Nas costas do Tempo
No útero da Terra

Gira vento
Nas asas da Borboleta

Vem apreciar o era
E o nascer do será
Vem ser inteira
Brincando com as asas da
Borboleta

Tatiana Mamede


Uma poesia, apenas para nosso deleite, nesta tarde chuvosa e fria.
Aproveitemos o ensejo para observar o clima à nossa volta e ler os sinais da Natureza, ao invés nos hipnotizarmos ante a esse punhado de pequenas letrinhas feitas de luz.


Aconchegue-se nas palavras da autora e delicie-se com as mesmas músicas que ela indicou a seus leitores no blog Confissões de Uma Pena, se sua autoria: Borboleta, cantada por Adriana Calcanhotto, e A Dança das Borboletas, interpretada por Zé Ramalho.
Clique no nome do cantor para acompanhar a letra de cada canção.

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2 de outubro de 2006

A Canção de Amairgin

Sou o vento que sopra sobre os mares,
Sou a onda do oceano,
Sou o murmúrio das águas,
Sou um touro de sete lutas,
Sou uma águia sobre a rocha,
Sou um raio de sol,
Sou a mais belas das plantas,
Sou a coragem de um javali,
Sou um salmão na água,
Sou um lago na planície,
Sou uma palavra de arte,
Sou a ponta de uma lança em batalha,
Sou o Deus que Inspira o fogo da mente.
Quem traz a luz aos encontros no alto das colinas?
Quem anuncia as eras da lua?
Quem conhece o local onde o sol repousa?
Quem encontra as fontes de água cristalina?
Quem chama os peixes das profundezas do oceano?
Quem os traz para a superfície?
Quem muda as formas da terra e das colinas?
Um druida, a quem os navegantes consultam por suas profecias.
Lanças a serem empunhadas,
Eu profetizo a vitória
E todas as coisas boas;
Assim termina a minha canção.

Texto originalmente extraído do "Livro de Leinster", século 12 e.c.

"A Inspiração resume-se num momento onde atingimos
uma compreensão inusitada daquilo que está à nossa volta "

Alexandre Malhado
Este texto é uma das pérolas do Druidismo, e denota toda a paixão que pulsa nas veias e comprometimento vivenciado pelos seus sacerdotes – Bardos, Fili e Druidas – para com a fé de seu povo e a importância daquilo que nos cerca e dos ritmos e ciclos da Natureza e dos Deuses que a formam em nossas vidas.


Mas sobre o sacerdócio druídico eu falo mais em outra ocasião. No momento, delicie-se com esta gota de Inspiração enquanto escuta Loreena McKennitt entoar sua bela poesia em "The Mystic's Dream".
Acompanhe a letra pelo próprio link e conheça também sua tradução clicando aqui.

Com agradecimentos a Cecília Lóes pelo texto.

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6 de março de 2006

Aos Guerreiros Pagãos

São em homens e mulheres
De Corações repletos de ideais
Que nascem os sonhos
Sonhos tão doces, tão reais...
Que deixam de ser sonhos
Desde que habitem
Com desconcertante valentia
A mais profunda morada
De seus corpos.
Sejamos então, incertos
E o mais audazes que pudermos hoje.
Lutemos, amemos
E nos perdoemos pelos anos que virão.
Sejamos imortais hoje
Para que possamos compensar
Os erros da amanhã.
Ao inimigo, não cedamos jamais
Sejamos bravos
No cumprir do destino que nos cabe
Valentes guerreiros pagãos
Pois a guerra será vencida
Antes de cairmos mortos
Em campo de batalha
Ou podres, escondidos dos Deuses,
Perecermos covardes
Sejamos bravos, então,
Imbuídos de reluzentes armaduras
Vistamos de ideais nossas almas
E logo nossos princípios
Se farão escudos
Nossas armas serão de espíritos e paixões
Nosso exército se fará tempestade
Afogando nossos inimigos
Em seus próprios egos
E por fim, nossas palavras
Rasgarão suas peles como lanças
E derramarão seu sangue
Sobre os campos que semeamos.
Nossa honra, meus caros,
Será fortaleza...
De brio e valentia plantados no peito
Marchemos...
Sobre nossos próprios medos
Surjamos,
Como a aurora que desponta no horizonte
Triunfante espetáculo
Lembrando-nos que no fim da jornada
Sorriremos, enfim gloriosos
Enquanto vislumbramos
Brotando de nosso ser
Uma fagulha de imortalidade,
Serena e singela,
Ressurgindo na escuridão,
Enquanto cruzamos as brumas
A caminho de Tir Nan Og.
Énbarr Mac Mannanan.
Com a contribuição da autora.

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30 de janeiro de 2006

Favorecimento do Pai

Nem a bruma, nem o mar,
O coração teme o desconhecido.
Em busca do saber está,
O homem já fortalecido.

O Pai favorece de bom grado,
O Guerreiro jovem e valente,
Mas observante paira no prado,
Um Juiz por ora convalescente .

Suas Filhas cavalgam os ares,
Por noites e dias sob a aurora,
Chamando os heróis a seus lares,
À suas moradas do amanhã, do agora.

Bem-vindo aquele que é virtuoso.
O Pai favorece de bom grado,
O que fez um caminho tortuoso.
Que o Altíssimo tenha-nos resguardado.
Vagner Kniphoff.


Com a contribuição do autor.

P.S.: Fazer o que, se os poemas são excelentes? Que todo Bardo, Druida ou não, tenha palco quando falar dos Deuses pagãos!!!

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27 de janeiro de 2006

O Galante Frey

Na montanha nevada
A Bela aguarda sentada

O Rei está a entristecer
Por esperar seu amor aparecer

A Bela que é galanteada
Traz o inverno e a geada

Mas o Rei com seu amor
Afasta qualquer frio ou dor

O sol nasce e brilha
E amor sempre encontra uma trilha.
Vagner Kniphoff.


Com a contribuição do autor.

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